Um rito de purificação, limpeza e florescimento à moda tradicional de alguns povos dos Andes do Peru. É a história de uma causa de amor: Rosa Cuchillo é a mãe que procura, além da morte, o seu filho desaparecido, percorrendo outros mundos (o Mundo de Baixo, "Uqhu Pacha", e o Mundo de Cima, "Hanaq Pacha"). O retorno dela a esta terra (o "Kay Pacha") procura trazer harmonia à vida e, através da dança, ajudar as pessoas a perder o medo e a iniciar o processo de cura do esquecimento. 

A acção cénica foi criada para ser apresentada em mercados andinos do interior do país. "Rosa Cuchillo" irrompe no quotidiano das pessoas do povo e surpreende-as com um diálogo com a teatralidade através da fábula, da dança, do rito, do concreto, do onírico, da imagem e da música. Esta peça procura remexer na memória para gerar um novo olhar sobre a História vivida nos últimos vinte anos no Peru, país cuja história recente é marcada pela violência gerada pela luta entre os activistas do movimento armado Sendero Luminoso e as forças de segurança do Estado.

Esta performance é sobre a história do exílio da família palestiniana de Shahd Wadi. É uma trouxa que embrulha a vida de um corpo que reside na “fronteira”. Num ato e desato que ocorre ao longo deste espectáculo, o corpo de Shahd torna-se palestiniano, tal como a liberdade. É uma performance-trouxa que ainda não existe. É apenas um sonho de regresso. Uma resistência.

“Confesiones” é uma performance a solo de Ana Correa, na qual partilha com os espectadores o seu processo criativo em constante diálogo com as personagens criadas nas obras do seu grupo, Yuyachkani, especialmente as que surgiram durante o período da violência política no Peru. Ana Correa expõe-se como pessoa e personagem do seu próprio trabalho. O espectáculo liga-nos a uma actriz que assume o Teatro como um modo de vida, pelo que podemos ver a fusão da sua condição de mulher, mãe, cidadã e actriz, onde presença e personagem se posicionam numa ténue fronteira entre ficção e realidade.

“Do Alto” é um lugar. Mas “Do Alto” é também o nome pelo qual é conhecida uma mulher. Uma mulher de lugares certos. Pertence a uma terra, a uma casa, a um banco junto à lareira, a uma pedra à beira do caminho de onde observa pacientemente o mundo. Na hora em que o seu lugar de pertença passou a ser outro, os lugares que eram só seus ficaram cheios de ausência. Esta performance/instalação de uma pessoa para uma pessoa resulta dessa experiência de habitar os lugares de outrem.

“Blanca es la Noche” é inspirado em poemas de Hilda Hilst e na história da poeta italiana Alda Merini, que passou anos da sua vida num hospital psiquiátrico, tendo conseguido sobreviver graças à escrita dos seus poemas. O conto “Miss Algrave”, de Clarisse Lispector foi, também, fundamental para a construção da dramaturgia: “numa noite de lua cheia, uma mulher experimenta uma revelação de amor”. Será mentira? Ou será a lembrança dolorosa de uma memória de infância criada, imaginada, como a única possibilidade de continuar a viver? A história da personagem não pode ser partilhada, porque ninguém acreditaria nela, nem a ficção, nem, talvez, a sua própria verdade. As suas palavras permanecem fechadas, afogadas no seu corpo. “Estou na noite, até que a lua brilhe e a noite fique branca. Até que os passarinhos trancados na minha cabeça possam voar transformados em palavras”.

Esta palestra-ritual performativa aborda o tabu sobre o sangue menstrual feminino como uma justificação para o nascimento da interdição das mulheres no território percussivo sagrado, entre outros espaços simbólicos, problematizando as conotações negativas atribuídas a esse ritual fisiológico, bem como ao corpo da mulher ao longo da história. Em busca de problematizar a influência da cultura patriarcalista por trás das imagens estigmatizantes da mulher como uma entidade negativa, perigosa ou inferior, a palestra pauta-se por textualidades míticas yorubanas presentes no quotidiano afrobrasileiro e na ritualização performativa dos caminhos para uma ética descolonial de género.

“Exercício para Performers Medíocres” é uma performance a solo de cinquenta minutos, essencialmente triste e naturalmente ruim. Tita Maravilha ou “a pior das actrizes”. Baseado no processo de autoficção da performer e na metalinguagem contemporânea do humor através das cicatrizes da intérprete. Rir para não chorar. O fracasso como potente pedagogia. “Se você me perguntar: você é uma garota latino-americana?, eu respondo: sim, tenho cicatrizes! O problema é que os bons performers não mentem e eu minto o tempo todo”. 

Um percurso na rua, em Marvila, no qual as várias pessoas que integraram as formações do II Festival Eufémia apresentam intervenções artísticas criadas para a rua. O evento é aberto à participação livre da comunidade em geral.